Tirar uma empresa da crise é como pilotar um avião em voo rasante.
É demasiadamente perigoso e requer muito cuidado e muita habilidade do CRO e seu time.
Uma forma de se enxergar esse processo é compará-lo a ao momento de se tirar o avião do chão. Ao chegar em uma empresa, o CRO se depara com um avião no chão “querendo decolar”. Ele faz um check list básico: Motores funcionam, há algum combustível, alguns comandos no painel funcionam. Traça-se um plano de voo, dá-se partida e o avião decola. A primeira dúvida que surge é qual a altitude que este avião conseguirá chegar e se será possível se manter nela até que o CRO consiga entender as deficiências, traçar um novo plano de voo, buscar eventuais escalas para reabastecimento e eventual troca de tripulação e, enfim, poder buscar a tão desejada altitude de voo de cruzeiro até que se chegue ao destino final. Enquanto isso não ocorre, o CRO precisa pilotar na altitude que que o avião conseguir se manter. Risco à frente. A analogia é bastante pertinente já que, em um voo de cruzeiro, o avião está a 30.000 pés e por conta da altitude existe tempo e espaço de manobra. Em um voo rasante, qualquer deslize, o chão está bem próximo. O que normalmente faz com que a empresa esteja em “voo rasante” é a demasiada quantidade de ameaças à sua continuidade, seja na esfera operacional, seja na administrativa e financeira. Motor fraco, avião pesado, tripulação ineficiente. Péssima combinação. Sob a ótica operacional, o que vai determinar a distância até o chão é a capacidade da empresa em restabelecer o seu melhor nível operacional. O que normalmente se encontra é um parque industrial deficiente, sofrido pela redução nos planos de manutenção e, muitas das vezes, sem operar. A tripulação, com frequência, desmotivada e com salários atrasados. Um verdadeiro caos. Sob a ótica financeira, o que se encontra é um caixa deteriorado, escasso, tornando ainda mais difícil a preparação do avião para alçar níveis de voos mais altos. Sem caixa, poucas são as possibilidades de fazer as correções mais básicas. Ainda assim, nosso avião voa em altitude bastante baixa e o risco de se atingir um morro é eminente. É na esfera administrativa que moram as grandes ameaças e os riscos ocultos. A empresa em crise tem uma coleção de “inimigos” judiciais que, normalmente, trabalham em silêncio e quando a notícia chega, é como um míssil teleguiado buscando derrubar o avião. Esses “mísseis” podem ser traduzidos nos mais diferentes tipos de processos judiciais de cobrança de eventos passados. Pessoal dispensado que cobra salários mal pagos, fornecedores tentando reaver os seus créditos, enfim, toda um contingente buscando ativos que venham mitigar suas eventuais perdas oriundas da relação com a empresa em crise. Este momento requer demasiada atenção do CRO que terá que dedicar um volume considerável de tempo para evitar que alguns desses processos judiciais abatam o avião em curso. É nesse momento que serão feitas as negociações mais duras e que, dependendo do resultado, trará ao processo uma maior ou menor velocidade de recuperação. O sucesso do plano de recuperação dependerá diretamente da habilidade do CRO em sustentar o avião em voo rasante, cuidando dos obstáculos à sua frente. Evitar os tiros frequentes e quase sempre certeiros é fundamental para que seja possível a mudança gradativa de nível de voo. Uma vez superada essa fase processual crítica, o próximo passo será a busca por mais combustível e uma melhor condição de voo. É hora de pensar na revisão do plano de manutenção do avião e, obviamente, na restruturação da sua tripulação. Avião leve voa melhor. Mas esse é assunto para um próximo artigo.